UFRN reforça ações contra hanseníase nesta segunda.
Publicado em
26/01/2020
Médicos e profissionais da saúde realizam, nesta segunda-feira, 27, atividade para diagnóstico da hanseníase em Natal. A ação acontecerá durante toda a manhã na Unidade Clínica do Instituto de Medicina Tropical (IMT/UFRN), no bairro das Quintas, ao lado do hospital Giselda Trigueiro. A mesma atividade se repetirá no dia 30, em Mossoró, no PAM do bairro Bom Jardim.
Pessoas com manchas de pele dormentes ou lesões crônicas que não estão melhorando com tratamentos convencionais ou que tiveram contato com hanseníase devem se dirigir a essas unidades para triagem, diagnóstico e tratamento — nos casos de confirmação. Todos os atendimentos são gratuitos e realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Comparado com o Ceará, que tem uma média de 2 mil novos casos por ano, ou a Paraíba com suas 600 notificações, o RN é um dos lugares com menor índice observado, cerca de 250 a 300 confirmações anuais. É justamente nesse aspecto que está o problema, uma vez que, por aparecerem poucos casos, a doença acaba sendo ainda mais negligenciada, fazendo aumentar o número de pessoas diagnosticadas tardiamente.
No RN, o número de casos novos de pacientes com incapacidade neurológica irreversível é de 12%, quase o dobro da média nacional, que é de 7%. Para o médico dermatologista Maurício Lisboa Nobre, assessor para hanseníase na OMS no RN e pesquisador do IMT, essa é uma prova de que o estado está negligenciando a doença e muitos casos não estão sendo descobertos.
O Brasil tem o segundo maior número absoluto de hanseníase no mundo. Em 2018, 26.875 pessoas (12,7%, do total mundial) foram diagnosticadas, atrás apenas da Índia, que registrou 156 mil novos casos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, como a Índia tem cinco vezes mais habitantes do que nós, o Brasil acaba assumindo o topo da lista de 150 países e territórios investigados, se considerado o índice relativo aos novos casos.
Maurício Lisboa alerta que, apesar desses índices, a doença é negligenciada no país. Aqui no RN, quase não existem ações de controle e o diagnóstico de pacientes é pouco. “As ações de controle da hanseníase basicamente são a capacitação dos profissionais de saúde, para detecção precoce, e as campanhas para busca ativa de casos, porque, se depender das pessoas procurarem atendimento, a doença será identificada tardiamente”, explica.
No ano passado, ainda segundo ele, o treinamento de profissionais foi feito graças à iniciativa da UFRN, embora tenha contado com apoio do governo do estado.
Selma Jerônimo, diretora do IMT, alerta para urgência de tornar esse problema cada vez mais conhecido da população, a fim de evitar que continue se espalhando e causando tantos estragos. Segundo ela, o trabalho do Instituto de Medicina Tropical tem ajudado nesse percurso, não só identificando as áreas de risco e atuando junto às localidades, mas também buscando entender o mecanismo de transmissão e proliferação, além de oferecer novas possibilidades de diagnóstico e tratamento.
Hanseníase
Doença traiçoeira e silenciosa, a hanseníase vai se desenvolvendo lentamente e, se não cuidada, provoca perdas irreversíveis, como o comprometimento de nervos periféricos, ocasionando alterações de sensibilidade e força muscular. É também possível o aparecimento de úlceras de pernas e pés, caroços no corpo — em alguns casos avermelhados e dolorosos —, febre, edemas, dor nas juntas, entupimento, sangramento, ferida e ressecamento do nariz dos olhos.
Segundo Maurício Lisboa, a doença, que se manifesta por mancha na pele, tem uma característica específica que é o fato de essas manchas serem dormentes. “Geralmente, são lesões de pele que não curam com medicamentos comuns. Muitas vezes, quando a pessoa vem a ser diagnosticada, já tem usado alguns cremes para outras enfermidades. Algumas formas de hanseníase simulam muito os quadros alérgicos, então, geralmente, a pessoa já tem tomado também remédio para isso”, reforça.
Importante destacar que a hanseníase tem cura e fácil tratamento, apesar de longo. Embora seja de fácil transmissão, a maioria das pessoas são imunes a ela. Significante saber ainda que, a partir do momento que se começa o tratamento, a doença deixa de ser transmitida imediatamente.
UFRN